Delegado combate o crime com educação


fato que até a atualidade, o principal representante do Estado que entra nas favelas de São Paulo e de outras grandes cidades é a Polícia. As conseqüências disso, todos conhecem - retaliação dos criminosos, balas perdidas, mortes para os dois lados e de inocentes, corrupção policial, aumento da insegurança, caos, medo. “É preciso trabalhar a cidadania destas pessoas, os valores morais, a ética, só assim conseguiremos reverter esse quadro de criminalidade”, defende o Delegado de Plantão da Delegacia sede de São Caetano, Antonio Carlos Rennó Miranda. Nos seus 15 anos à frente da polícia, os últimos 10 têm sido dedicados, também, a uma função tão nobre e honrada quanto prender bandidos - impedir que eles surjam e se proliferem. Desde 1998, Rennó é líder e especialista da NARCONON Brasil, uma organização-não-governamental norte-americana, líder mundial em programas de prevenção e reabilitação de dependentes químicos. A instituição possui um total de 109 centros de reabilitação espalhados pelo mundo. O atual centro brasileiro está instalado numa fazenda em Camanducaia (MG), embora 70% dos pacientes sejam da Europa e dos EUA. “É o único centro internacional de reabilitação do país”, afirma o delegado. Rennó conheceu o programa através de um casal de suecos que iniciou a instalação da ong por aqui. A reabilitação de viciados em drogas e álcool é feita, entre outras coisas, através de sessões de sauna, exercícios físicos e consumo de vitaminas, que ajudam a purificar o organismo do paciente e fortalecê-lo contra a reincidência.. Nos últimos anos, Rennó tem ministrado palestras de prevenção às drogas e ao crime para estudantes e professores da rede pública e particular de ensino, além de policiais e membros de associações de bairros carentes do Grande ABC e de São Paulo. Há três meses, ele também se filiou ao CRIMINON (da sigla em inglês “não ao crime”), outra ong cujo objetivo é evitar que jovens entrem para o mundo do crime e que criminosos reincidam em seus delitos. “São, na verdade, novas ferramentas para fazer frente ao caos social de criminalidade, drogadição e imoralidade instalados no Brasil. Existe um clamor social por programas como esse e temos de lançar mãos dessas ferramentas”, defende o delegado.Atualmente, seu objetivo é popularizar os dois programas com a ajuda das iniciativas pública e privada. “Já conversei com o prefeito (José) Aurichio Jr. e apresentei os programas a ele para serem trabalhados com as escolas de São Caetano. Acho que a cidade tem o dever de iniciar esse trabalho no país, devido ao nível de qualidade de vida que ela possui. Até agora não obtive resposta. Eu só gostaria de ajuda para os custos do material das palestras, cerca de 100 a 200 mil cartilhas”, conta. As cartilhas, denominadas “O Caminho Para a Felicidade”, possuem 21 conceitos morais que não obedecem uma linha religiosa determinada. “São conceitos morais, de humanidade, que trabalham a ética, o respeito e a civilidade das pessoas”, diz Rennó, que quer expandir esses conceitos junto aos professores da rede pública, que deverão multiplicar o trabalho com os alunos. “Percebo nas minhas palestras que há uma ansiedade desses professores em trabalhar com esses conceitos, pois eles não estão preparados para lidar com assuntos relacionados à criminalidade e às drogas”, afirma. E está mesmo, mais do que na hora de unir quem combate o crime àqueles que ensinam a cidadania. (Lincoln Martins, Especial para Folha de São Caetano